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Ícone do Modernismo, Palácio Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro, tem fachadas restauradas


Quem estiver passando pela movimentada Rua Araújo Porto Alegre, na esquina com a Avenida Graça Aranha, no centro do Rio de Janeiro (RJ), vai poder se encantar com a imponência do Palácio Gustavo Capanema e entender por que ele é um ícone do Modernismo para o Brasil e para todo o mundo. Mais de 70 anos depois da inauguração do edifício, em 1946, suas fachadas inovadoras foram restauradas e serão entregues nesta tarde pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), instituição vinculada ao Ministério da Cultura (MinC).

Foto: Ronaldo Caldas (Ascom/MinC)

A restauração completa das fachadas, no valor de R$ 29 milhões, é uma etapa fundamental de uma série de obras que vem sendo realizadas no local desde 2014. Desde o início da intervenção, já foram investidos R$ 42 milhões em ações como a restauração dos revestimentos de pedra dos pilotis, impermeabilização do terraço-jardim e da cobertura do bloco de auditórios, modernização dos elevadores, substituição de esquadrias nobres e revestimentos de alguns pavimentos e do teto dos pilotis, além da total restauração das fachadas. 

"O Palácio Gustavo Capanema é o primeiro edifício no mundo que realiza plenamente todas as convenções e características do Movimento Modernista. É bastante importante que avancemos na reforma completa do prédio, cuja segunda fase de obras será iniciada ainda este ano. Nosso objetivo é que o prédio, quando totalmente restaurado, não seja apenas sede do Ministério da Cultura, mas um centro cultural e um importante ponto turístico do Rio de Janeiro", destacou o ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão.

"A restauração das fachadas foi um projeto muito complexo, delicado, que precisou de grande expertise para ser realizado", afirmou a presidente do Iphan, Kátia Bogéa. "Agora é partir para a próxima etapa das obras, na qual serão investidos R$ 80 milhões por meio do PAC Cidades Históricas", completou. A licitação para contratar a empresa responsável foi publicada nesta quinta-feira no Diário Oficial da União e as propostas serão entregues no dia 16 de outubro.

A segunda etapa de obras, com cronograma previsto para 30 meses a partir de seu início, prevê a restauração, conservação e modernização da parte interna do edifício, englobando toda a parte de infraestrutura, sistema de detecção e combate a incêndio, sistema de ar condicionado, modernização dos auditórios, conservação dos jardins do térreo e restauração de todo o mobiliário de madeira e dos painéis de azulejos de Portinari.

O emblemático edifício é resultado do encontro de nomes como Lucio Costa, Oscar Niemeyer, Affonso Eduardo Reidy, Carlos Leão, Ernany de Vasconcelos e Jorge Machado Moreira, com a consultoria de Le Corbusier. Pela primeira vez no Brasil, um edifício reuniu as principais características da arquitetura moderna, com o uso de pilotis, planta livre, terraço-jardim, fachada livre e janelas em fita.

Somados a eles, também estiveram Burle Marx, Cândido Portinari, Bruno Giorgi, Adriana Janacópulus, Celso Antônio e Jacques Lipchitz, consolidando o time responsável pelas artes integradas, com pinturas, esculturas e paisagismo. Nascia então, o Palácio Gustavo Capanema, idealizado para sediar o Ministério da Educação e Saúde do Governo de Getúlio Vargas.
As inovações do Modernismo 
Foto: Ronaldo Caldas (Ascom/MinC)

A reunião de tantos mestres da arquitetura na década de 1930 trouxe muito mais que um edifício alto e imponente. A construção se destaca pela introdução dos princípios do conforto ambiental, com o aproveitamento da ventilação e iluminação naturais por meio de soluções inovadoras em suas fachadas: a utilização de lâminas horizontais móveis – os chamados brises soleils, sistema criado por Le Corbusier e ali utilizado pela primeira vez em larga escala, para sombreamento e redirecionamento da luz na fachada norte do edifício, que recebe maior incidência solar.

O prédio também foi um dos primeiros arranha-céus construídos no mundo com fachada curtain wall – uma fachada envidraçada, adequadamente orientada para receber menos exposição ao sol. A disposição das esquadrias em fachadas opostas – norte e sul – e a planta livre permitem ainda a permeabilidade aos ventos por meio da ventilação cruzada.

Para resgatar todas essas especificidades, os técnicos do Iphan tiveram que enfrentar diversos desafios durante as obras de restauração. Um dos maiores foi restaurar os sistemas de engrenagem, com contrapeso, para movimentação de cerca de 1,1 mil conjuntos de esquadrias produzidas especialmente para o edifício. Outra ousadia foi substituir todos os brises soleils, originalmente compostos de amianto, por peças em fibrocimento.

Um ponto de grande curiosidade foi restabelecer o aspecto original da fachada norte, recuperando o tom azul original dos brises soleils, chamado azul Lucio Costa. A tonalidade possui um código do Sistema de Cor de Munsell, que foi especificado pelo próprio Lucio Costa e registrado por ocasião do Projeto de Restauração e Preservação do Palácio da Cultura, na década de 1980. A escala de Cor Munsell é utilizada universalmente pela indústria de tintas para a construção civil e a engenharia, e não possui variação. O registro histórico, assim como a cartela com a indicação da cor e sua referência, encontra-se no Arquivo Central do Iphan e foi consultado para embasar a intervenção.
Congresso Mundial de Arquitetos

Durante a cerimônia de entrega das fachadas, foi destacado o valor do edifício como exemplar notável da história da arquitetura, ao ser formalizada a cessão de seu uso para o 27º Congresso Mundial de Arquitetos, que será realizado na cidade do Rio de Janeiro em 2020. Promovido pela União Internacional de Arquitetos (UIA), o encontro ocorrerá pela primeira vez no Brasil e volta à América Latina após 42 anos, com a expectativa de receber mais de 15 mil arquitetos de todo o mundo.

Por meio da parceria com o Iphan, a UIA vai utilizar o Palácio Gustavo Capanema para a realização de eventos, workshops, exposições e palestras que irão integrar a programação do evento de março a agosto de 2020.



Fonte: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)
Ministério da Cultura
Compart.

Roberta Monteiro

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