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Abav-CE faz 45 anos realizando sonhos de viagens e vencendo obstáculos


A Associação Brasileira de Agências de Viagens no Ceará (Abav-CE) foi criada no dia 15 de março de 1973, integrando o ciclo de entidades em todo o país

Viajar foi sempre um desejo dos povos desde os tempos mais remotos. Mesmo em condições precárias de transporte e hospedagem, as pessoas viajavam em busca de conhecimento e lazer. Era gratificante descobrir novidades nas vizinhas ou distantes cidades e sentir novas formas de satisfação. As viagens deram origem à palavra turismo, definida como um conjunto de atividades que envolvem o deslocamento de pessoas de um lugar para outro.


Com o aparecimento das viagens surgiu a necessidade de alguém para organizá-las, o que deu origem às agências de viagens, uma empresa privada que trabalha como intermediária entre os clientes e as empresas prestadoras de serviços turísticos: hotéis, transportadoras aéreas, terrestres, marítimas e outros.


Numa atitude ousada, o britânico Thomas Cook fundou, em 1841, a Thomas Cook and Son, a primeira agência registrada no mundo. Antes, em 1758, ele havia criado a Cox & Kings, a agência de viagens mais antiga do mundo. Cook criou ainda o voucher e a circular note, que foi substituída pelo traveller check. Anos depois surgem as agências de viagens brasileiras, registradas como prestadoras de serviços específicos no final do século XIX. 


No Brasil, as agências de viagens atravessaram várias fazes, de acordo com a clientela e a programação ofertada: tours individuais para profissionais liberais e executivos de alto poder aquisitivo; tours de grupos em automóveis e ônibus para atendimento das classes burguesas; visitas organizadas e tours para clientela de médio poder aquisitivo (1950). Nessa época as agências fundaram as primeiras entidades associativas do setor, como sindicatos e associações nacionais de agências e operadoras.




No dia 28 de dezembro de 1953, representantes de 15 agências de viagens fundaram a Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav), com sede no Rio de Janeiro, na época, Capital Federal. Uma das metas da associação era criar representações em todos os Estados, para aprimorar conhecimentos, adquirir novas técnicas de vendas, lidar com o público e defender seus interesses a partir do reconhecimento da profissão.


NO CEARÁ


Em 1973 o Ceará tinha como governador César Cals de Oliveira Filho, que abriu caminhos para o turismo receptivo com a implantação de equipamentos turísticos sustentáveis, como o Centro de Convenções, o Teleférico de Ubajara, a transformação da cadeia pública em Centro de Turismo para comercialização do artesanato cearense e a implantação da Empresa Cearense de Turismo (Emcetur). O turismo emissivo era feito por uma pequena parcela da população com elevado poder aquisitivo. Dez anos antes as agências de viagens começaram a se instalar, a maioria por decisão de representantes que tinham influência na sociedade para atender aos anseios de amigos.


Consta nos arquivos da Abav-CE que os primeiros passos para a criação da entidade foram discutidos em 1965, por um grupo de agentes de viagens – tido até então como “vendedores de passagens” – liderado por Francisco Almeida Castro (Franturismo), Esequiel Xenofonte (Excita), Valdênia Rocha (Opatur) e Mário Cabral (Ceará Turismo). Na época, “os agentes de viagens estavam habituados a negociar tudo através dos transportadores, que se beneficiavam da ausência se uma classe com definições claras e precisas do valor de sua atuação”.


O grupo contou com a participação de outros agentes de viagens e com a iniciativa e o entusiasmo do colega Orlando Falcão, através da sua agência Unitur, “surgindo daí a formação do núcleo pioneiro da Abav-Ceará”. No início das atividades, a Abav-CE contou com a colaboração de líderes nacionais, que deram sugestões oportunas e seguras para a criação da associação. Apesar do esforço desses pioneiros, a Abav-Ceará só foi criada oficialmente, com personalidade jurídica, no dia 15 de março de 1973.


“A partir de 1966, os principais agentes de viagens, congregados em torno da Abav, iniciaram uma fase promissora, mudando a imagem da classe junto ao público e fortalecendo seu prestígio junto ao governo e aos hoteleiros e transportadores”. Isto atraiu novos companheiros como Fran Arruda, Zeneida Nunes, Eulálio Lafuente, Valmir Rosa Torres, João Dias, Ubirajara Fontenele, Francisco Austregésilo Rodrigues Lima, Rubens Studart, João Montenegro, Raul Arrais, Ernani Silva e outros.


O primeiro presidente foi Orlando Falcão (já falecido), seguindo-se Francisco de Assis Melo Arruda, Austregésilo Rodrigues de Lima, Rubens Ferreira Studart, Valmir Rosa Torres, Lenise Queiroz Rocha, Iramar Veríssimo Pinto, José Raul Arraes, Francisco Edmilson Rodrigues, Colombo Cialdini, José Antônio Nogueira, Verônica Patrício Gonçalves de Holanda. A relação de presidentes é intercalada várias vezes por Colombo Cialdini, atual presidente da Abav-CE, que já assumiu o cargo dez vezes com mandatos de dois anos cada, e preside outras entidades do turismo.



Os pioneiros Valmir Rosa Torres e Austregésilo Rodrigues Lima

No “vigor” dos seus 88 anos, o coronel Austregésilo Rodrigues Lima diz que participou da fundação da Abav-CE, ao lado de Orlando Falcão, de quem era sócio na fase de criação da entidade. Posteriormente, Orlando Falcão fundou a Mundialtur, e Austregésilo Rodrigues criou a Vematur, ainda em funcionamento no centro da cidade e inscrita como agência número 001 na Abav-CE.

Durante 20 anos, a Abav-CE elegeu sua diretoria por meio de indicação. A diretoria que saia indicava os sucessores. Em 1993 ocorreu a primeira eleição democrática no voto. Os associados reelegeram Iramar Veríssimo Pinto, que disputou o pleito com Edson Maranhão. Quando presidente, Valmir Rosa Torres dotou a Abav-CE de uma sede própria, inicialmente no Edifício General Tibúrcio, no Centro de Fortaleza; depois na Rua Carlos Vasconcelos, na Aldeota; e atualmente na Rua República do Líbano, 980, Meireles.


A Abav-CE conta com 88 associados e tem como objetivo principal valorizar o agente de viagens associado, oferecendo treinamentos, facilitando sua participação nos grandes eventos da entidade e informando as novidades do setor. A entidade está empenhada em representar os interesses das agências de viagens, promover o bem-estar social e o congraçamento da classe em todo o território nacional, fomentar o desenvolvimento do turismo nacional em todas as suas manifestações, bem como promover exposições de turismo e conferências que contribuam com o desenvolvimento técnico do setor, e valorizar o associado oferecendo treinamento de recursos humanos através do Instituto de Capacitação e Certificação (Iccabav).


Três anos após sua fundação, a Abav-CE foi beneficiada com a decisão da Abav Nacional de realizar seu Congresso anual no Nordeste pela primeira vez. O evento aconteceu em Fortaleza, entre os dias 14 e 17 de outubro de 1976, no Centro de Convenções do Ceará. Na época, o presidente da Abav-CE era Francisco de Assis Mello Arruda (Fran Arruda). A realização do Congresso deu um forte impulso para a consolidação da entidade e para o desenvolvimento do turismo no Estado.


AS AGÊNCIAS E SUAS TRANSFORMAÇÕES


Nestes 45 anos foram muitas as transformações ocorridas nas agências de viagens. Estas empresas perderam status, prestígio e dinheiro. As companhias aéreas, suas parceiras, aderiram ao sistema de venda direta e deixaram de pagar as comissões pelas vendas. O advento da internet agravou ainda mais esta comercialização, deixando o agente de viagens com uma clientela bastante reduzida, embora eles continuem sendo “o funcionário mais barato” das companhias aéreas, com a comissão paga pelo cliente.


O presidente Colombo Cialdini e a diretora da Fortline, Elaine Amorim, participaram de entrevista do blog e falam das alegrias e decepções e da convicção de continuar no ramo em busca da satisfação do cliente e da realização profissional.


Qual foi a melhor época para o agente de viagens?


Colombo Cialdini, presidente da Abav-CE

Colombo: O melhor período ao longo de 65 anos da Abav Nacional foi quando os fornecedores, de um modo geral, eram parceiros e tinham respeito pelos agentes de viagens, os funcionários mais baratos das empresas de turismo, remunerados pelo cliente como é até hoje. Neste período áureo ainda não existia a concorrência desleal da internet, dos sites das companhias aéreas e de tantos outros que travam uma verdadeira cruzada com o agente de viagens.


O que mudou na profissão do agente de viagens?


Colombo: O tradicional agente de viagens, conhecido como um mero emissor de bilhetes aéreos, seguro saúde, cruzeiros marítimos e etc, está fadado a ser extinto, sumindo do dinâmico setor do turismo, que existe desde o início das negociações de grupos de viagens mundo afora. Os profissionais do setor precisam se reinventar e se transformar em consultores de viagens corporativas e de lazer. Precisam viajar e estudar história internacional e geografia mundial para montar seus pacotes e oferecer boas opções aos seus clientes.


Qual é o quadro atual e quais as perspectivas?


Colombo: O setor atravessa um momento delicado e de readequação por questão de sobrevivência. Ou o agente aprende a lidar com ferramentas consultivas importantes como a internet, site dos fornecedores com o objetivo de cada vez mais fidelizar o cliente ou ficará fadado a observar a tecnologia da informação se apropriar da sua clientela debaixo dos seus olhos. Não é por incompetência do agente de viagens, mas pela sua persistência na lei do menor esforço, se mantendo com o modelo ultrapassado, que não tem mais espaço neste mundo moderno e competitivo.


DIFERENTES FASES


Com mais de 30 anos no mercado, a diretora da Fortline, Elaine Amorim, viveu diferentes fazes das agências de viagens, venceu os obstáculos, fez sua sucessora, a filha Vivian Amorim, e continua firme, fazendo a clientela feliz.


Como era e como é hoje a profissão do agente de viagens?


Elaine Amorim, diretora da Fortline

Elaine Amorim: Antes existia uma burocracia muito grande para registrar uma agência de turismo. Demorava até um ano para aprovação dos órgãos do setor – Embratur e Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea) – além de contratar um responsável técnico com capacitação de no mínimo três anos. A agência tinha que ter um imóvel próprio para dar como garantia e assim abrir crédito nas companhias aéreas. Eram poucas agências, mas todas competentes. As tarifas aéreas eram apenas duas: diurnas e noturnas, com aumento de preço só uma vez por ano. Ser agente de viagens era uma das atividades mais cobiçada, amada e respeitada por todos do trade turístico. Só trabalhava em agência de viagens quem era capacitado e amava o que fazia. Eu ainda hoje amo o que faço e vou morrer agente de viagens.


As companhias aéreas eram nossas parceiras em todas as atividades e participavam do nosso sucesso. Com o passar do tempo as grandes empresas faliram, mudaram de nome, foram vendidas e as que existem hoje não têm escritórios nas grandes cidades. Uma tristeza ver nosso ramo tão mal cuidado e abandonado. Mesmo assim existe a parte boa nisso tudo. Ainda temos clientes fiéis que nos acompanham desde o começo. Clientes que buscam qualidade e segurança no seu agente sem se preocupar com a taxa de serviço.


Como sobreviver na disputa com as novas tecnologias e com a falta de parcerias?


Elaine Amorim: A realidade da agência de viagens mudou muito. A maioria não abre cadastro com as companhias aéreas e usa consolidadoras (intermediadoras). Não existe mais a burocracia do passado para se abrir uma agência e muitos pessoas trabalham em casa, não têm despesas com estrutura, encargos e não se comprometem em assumir erros, manchando assim o nome dos agentes de viagens sérios, que são credenciados. Nosso grande desafio é sobreviver sem a antiga parceria das companhias aéreas, que hoje vendem direto aos passageiros sem cobrar taxa de serviço. Minha recomendação aos clientes é que viajem com segurança e que procurem uma agência com escritório fixo e que seja afiliada à Abav e ao Sindetur.

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MARIO PINHO

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