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Turismo com deficiência




Por Ricardo Hida*

No Brasil, 48 milhões de pessoas possuem algum tipo de deficiência. O número tende a aumentar naturalmente porque a população ao envelhecer passa a apresentar restrições na mobilidade, na audição, na visão e problemas mentais. Há ainda aqueles que, em decorrência de um acidente ou doença, passam a integrar esse grupo.

A título de comparação, o número de pessoas com deficiência no Brasil é superior a quatro vezes o número de habitantes de Portugal (10,32 milhões). No entanto, por muito tempo, a nossa indústria vem ignorando o potencial que esses turistas representam.

A tecnologia vem ajudando a inserção desses profissionais na economia, tornando-os ou mantendo-os, ativos e, portanto, com renda para consumir experiências. Não podemos nos esquecer das famílias que baseiam suas escolhas de viagens por conta de um membro com deficiência. Da mesma maneira, no universo corporativo, políticas internas favorecem hotéis, companhias aéreas e serviços de transfer adaptados para esse público.


No Brasil, ainda é longo o caminho que se deve percorrer para se oferecer um serviço razoável para esta fatia da população. Obviamente, tudo começa com infraestrutura: acessibilidade nas ruas, estabelecimentos comerciais e no transporte público, itens que são precários. Sinalização é algo ruim por si só, imagine para as pessoas com deficiência. Lamentável também é a formação das equipes. Quantos estabelecimentos oferecem profissionais que dominam a comunicação em Libras (Língua Brasileira de Sinais)?

Da mesma maneira, poucos profissionais da Hospitalidade conseguem apoiar com naturalidade um deficiente visual. Elevadores, quartos e restaurantes, em sua imensa maioria, não possuem elementos adaptados para esses turistas. E, quando possuem quartos e banheiros adaptados, é gritante o descompasso estético na comparação com unidades para hóspedes sem deficiência. Se pensarmos em promoção comercial, poucas empresas oferecem materiais adaptados.

Se 48 milhões de consumidores não é um número relevante, então não sabemos mais o que é relevância. Estamos falando de 24% da população, quase um quarto de todos os brasileiros. É verdade que cidadania ainda não é uma qualidade de nosso povo e nem é intuito deste artigo discutir o que é óbvio. Estamos falando de negócios, de serviços, de hospitalidade.

As empresas que saírem à frente com produtos e serviços adaptados, com excelência e estratégia de comunicação adequada, não precisarão sequer pensar em fidelidade, porque serão poucas para atender tal contingente de mercado. O turismo do Brasil não só vive uma crise, ele está como esses 48 milhões de brasileiros: com deficiência.

*Ricardo Hida é formado em administração pela FAAP e pós-graduado em comunicação pela Cásper Líbero. Foi diretor da H&T Eventos, executivo de vendas na Air France-KLM, gerente de marketing na Accor Hospitality e diretor-adjunto do Escritório de Turismo da França no Brasil. Atualmente é CEO da Promonde. Dirigiu a comissão de turismo da Britcham e CCFB e é diretor da ABTLGBT. Ele escreve no Brasilturis às quartas-feiras. Contato: ricardo@promonde.com.br
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MARIO PINHO

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